Santa Maria e Sacramento tiveram a mesma origem. A cidade de Sacramento foi fundada em 24 de agosto de 1820 pelo cônego Hermógenes Cassimiro de Araújo Brunsowik, numa área de 214 alqueires de terras doadas pelo seu pai Manoel Ferreira de Araújo e Souza (capitão Ferreira) e sua mãe dona Joaquina Rosa de Santana. Estas terras foram rematadas em leilão judicial patrocinado pelo Juízo dos Ausentes e Defuntos de Desemboque e pertencia a uma tal de Maria Ausente. Foi doada pelos novos proprietários para a formação do patrimônio da Capela do Santíssimo Sacramento. O capitão Ferreira era Juiz de Órfãos e grande proprietário de terras na região do Desemboque, sede da Comarca na época.
(...) O cônego Hermógenes Cassimiro de Araújo Brunsowik foi encarregado por D João VI, de quem era confessor e amigo, de demarcar na época própria as sesmarias da região, entre elas a de Santa Maria, com início entre as serras de Ibituruna e Santa Maria até Uberaba. Este trabalho foi concluído de 1816 a 1817.
Quando demarcou a sesmaria de Santa Maria, além de perceber tratar-se de uma região de muita fertilidade e rara beleza, notou no meio da floresta uma enorme clareira. No local encontrou vários caminhos ligando a clareira ao rio Grande e ao Desemboque. No centro da clareira um oratório com a imagem da virgem Maria e um cruzeiro de madeira resistente, além dos vestígios de acampamentos típicos dos bandeirantes que transitaram pela região nas últimas décadas do século XVIII. Diante deste fato passou a chamar o local de Oratório de Santa Maria.
A concessão desta grande área de terras ele entregou a seu irmão padre Antonio Alves Portela Dominense (de Araújo), que fez construir em 15 de junho de 1827, uma capelinha rural de pau a pique revestido e preenchido com adobe, com um campanário sobre o qual colocou pequena cruz. Consta que a capelinha construída em homenagem ao oratório de Santa Maria, foi o primeiro templo religioso da região. Em seguida, passou a administrar uma próspera comunidade rural com utilização de dezenas de escravos nos trabalhos da produção agro-pastoril.
Nesta região a bela escrava Eleodora, cujo apelido era Janinha, teve um filho de pai desconhecido. A criança desapareceu no dia do nascimento e foi aparecer numa pequena fazenda em São Roque de Minas, próximo ao município de Sacramento, pertencente à família Gonçalves, onde foi criada e de quem herdou o nome de família passando a ser conhecida como Joaquim Gonçalves de São Roque. Jovem ainda retorna à região e se casa com Anna Petronilha de Araújo (vó Aninha), filha de Clemente José de Araújo, irmão dos religiosos acima referidos.
Joaquim Gonçalves de São Roque e sua mulher Ana Petronilha de Araújo (vó aninha) criaram em Santa Maria, uma comunidade rural inédita para a época porque sendo ele parente dos escravos os protegia e permitia que tanto estes quanto os parentes de sua mulher construíssem pequenas casas de paus-a-pique cobertas de sapé e chão batido e vivessem na comunidade de lavoura de subsistência ao lado do trabalho que prestavam aos proprietários. Esta comunidade se tornara unida, fraterna e cooperativa.
Dois institutos permaneceram após a morte de seus instituidores e que comprovam tais fatos: “o mutirão” e “a traição”. Pelo instituto do Mutirão, negros e brancos unidos prestavam serviços uns aos outros, tais como aragem de terra, plantio de arroz, milho, feijão, mandioca e outros alimentos e respectivas colheitas, além de outros serviços mais simples. Após a jornada de trabalho todos se confraternizavam no pátio da propriedade em que os serviços foram prestados ao som de instrumento musical rudimentar. Esta confraternização era por eles chamada de pagode. Interessante que enquanto os homens trabalhavam, as mulheres preparavam as refeições e os quitutes da noite.
Pelo instituto da Traição prestavam os mesmos serviços àqueles que por inibição ou por pensarem diferente não participavam dos mutirões. Chegavam aos casebres cujos serviços seriam prestados de madrugada, cantando e tocando os instrumentos rudimentares, o “assistido” ao ser acordado recebia a comunicação de que vieram para trabalhar em seu benefício de surpresa. Com o tempo o instituto da traição passou a ser exceção. Quando da libertação dos escravos em 1888, as outras fazendas importaram imigrantes. Fato não ocorrido em Santa Maria porque todos os escravos e descendentes não quiseram partir. Os filhos do capitão São Roque e seus netos aprenderam a tratar os descendentes de escravos como parentes (tia Bruza, tio Zé Cambota, tio Lana, Zé Alfaiate, Tereza, tia Marcolinha, tia Maria Sofia, Zé Coelho Preto e outros).
Joaquim Gonçalves de São Roque utilizando-se do trabalho de seus parentes escravos, foi o construtor do casarão e o fez em dez anos, sendo trabalho artesanal. O alicerce feito predominantemente de pedra tapiocanga e madeira aroeira mantendo-se incólume até sua restauração após 150 anos. Além desta obra material foi um grande líder ruralista e político tendo sido membro do Conselho Municipal de Sacramento. Foi capitão da guarda nacional e comandante da 3a Companhia do Batalhão 31, sediado em Sacramento, conforme consta no livro próprio do Arquivo Municipal daquela Comarca. Toda a comunidade na época era católica, apostólica romana convicta e comprometida. Na principal sala do casarão há um oratório dedicado a N Sra do Desterro, feita para que pudesse ter condições de trazer o padre uma vez por mês no mínimo em Santa Maria a fim de manter a fé pública sempre elevada.
Sinhô Mariano
No final do século XIX veio residir em Santa Maria, Mariano da Cunha Júnior, tio Sinhô Mariano casado com Irondina Djanira da Cunha, neta do capitão São Roque e vó Aninha. Sinhô Mariano era materialista, ambicioso, temperamental e “não levava desaforo para casa”. Tinha tentado a sorte como contador prático nas caieiras de Paineiras, comerciante, além de outras atividades. Todas sem grande êxito. Perdera tudo. A única esperança era reiniciar a vida na fazenda dos avós de sua mulher. Foram recebidos em festa e construiu nos fundos do casarão uma casa semelhante a dos demais moradores. Pretendiam colocar em todos os filhos nomes de madeira. O primeiro se chamou Cedro (Ranulfo) e a segunda Muliana (Mica), em contraste com o costume religioso da época de se colocar nomes de santos nos filhos.
Ao se instalar em Santa Maria fenômenos inusitados e incompreendidos na época passaram a surgir em todos os casebres da comunidade rural. Portas e janelas embora trancadas abriam-se e fechavam-se sozinhas à noite. Ouviam-se pedradas nos telhados e utensílios domésticos flutuavam pela casa. Pessoas ouviam vozes e outras tinham a impressão de ter a casa mal-assombrada, aparecendo-lhes fantasmas. Em uma das casas as roupas limpas das pessoas que lá visitavam ficavam marcadas com mãos sujas como se tivessem recebido batidas com mãos sujas. Aquele povo humilde num primeiro momento acreditava que o diabo e seus assessores tinham tomado conta de Santa Maria por algum castigo que não identificavam. Os fatos aconteciam em todas as casas.
Tio Sinhô Mariano tinha trabalhado como contador prático com Frederico Peiró em Paineiras, hoje Peirópolis, em homenagem a ele. Na ocasião presenciou a conversão de Frederico Peiró ao espiritismo e viu seu entusiasmo pela nova doutrina. Diante dos fenômenos mediúnicos que surgiam em Santa Maria, procurou imediatamente por Peiró que o acompanhou de volta e ouviram juntos todos os relatos da população local presenciando vários fenômenos de efeitos físicos.
O próprio Peiró não soube explicar a razão da ocorrência de fenômenos em todas as casas e sugeriu que se fizessem reuniões entre os moradores para que as entidades espirituais pudessem explicar quais seriam as atribuições a serem desenvolvidas nesta comunidade, pois em vez de ser coisa do diabo, poderia ser coisa de Deus, já que é raro ocorrer o afloramento espontâneo e em massa como ocorrido. Com a concordância de todos e diante dos entusiasmos revelados Sinhô Mariano passou a liderar o movimento que visava inicialmente à descoberta das causas de tais fenômenos.
Mesa Telegrâfica
Começou assim uma transformação radical na visão das coisas pelo Sinhô Mariano. As reuniões se sucediam nas casas dos próprios camponeses sempre sob a orientação de entidades comunicantes. O fato começou a provocar escândalos nas regiões circunvizinhas a Santa Maria, a comunidade passou a ser considerada como dominada pelo diabo. Por outro lado, capitão São Roque inconformado, chamou Sinhô Mariano lhe determinando interrupção das atividades ou seria expulso do local. Vovó Aninha comunicara a seu marido que se Irondina fosse embora por motivos religiosos, ela iria também. Neste clima tenso, Sinhô Mariano deixou sua casinha no fundo do casarão e rapidamente construiu outro casebre próximo ao córrego Ibituruna do lado esquerdo da estrada de Sacramento . Os trabalhos continuaram e em 28/08/1900 fundou-se oficialmente o Centro Espírita Fé e Amor funcionando durante muitos anos nas casas dos camponeses principalmente na casa de Honorato Ferreira da Cunha e sua mulher Maria Rosa de São Roque (vó Micota). Nesta ocasião, São Roque adoece com uma “ferida brava” na perna, não conseguindo recursos terapêuticos na região, sendo-lhe indicado remoção para um grande centro (São Paulo ou Rio de Janeiro). Opta por procurar Sinhô Mariano, através de quem obtém a cura. Diante disto, doa terras para que sua neta Irondina e seu marido Sinhô Mariano construam a casa onde viveram próximo ao atual prédio do Centro Espírita.
Centro E. Fé e Amor
O Centro Espírita Fé e Amor construído por volta de 1920 por doação de Jovino Gonçalves de Araújo, filho caçula do capitão São Roque, seu sucessor no casarão e casado com a sobrinha Leopoldina Geovana de Araújo, filha de Honorato Ferreira da Cunha e vó Micota. Lembrando que até esta data as reuniões ocorriam na casa dos camponeses e a sede funcionava na casa do Sinhô Mariano. As atividades espíritas de Santa Maria, nos anos seguintes, provocaram espanto, críticas e veementes protestos dos habitantes de Sacramento, Conquista e demais regiões circunvizinhas. Além de se tornar o pólo mediúnico e o berço da doutrina espírita no Brasil central. Os fatos inusitados que ocorriam ao lado da cura das doenças na época incuráveis, provocaram polêmicas e críticas cada vez mais acentuadas.
(...) Nesta época Eurípedes Barsanulfo era o maior intelectual da região e um exemplo de cidadão digno, honrado e religioso. "Tio Sinhô", com quem Eurípedes freqüentemente discutia os diferentes pontos de vista religiosos. Até então, Eurípedes era católico e "Tio Sinhô", espírita. E não podendo responder à todas as indagações de Eurípedes, pois Tio Sinhô era um homem rude do campo, este lhe apresenta um livro que poderia explicar a Eurípedes o que ele não conseguia fazer. Era um exemplar do Livro "Depois da Morte", que Eurípedes devora a leitura em uma noite e confessava-se empolgado com a lógica convincente do autor que é Léon Denis. Desde então, Eurípedes passa também a se interessar pelo estudo da nova doutrina e a participar das sessões mediúnicas na Fazenda de Santa Maria, quando, então, em uma destas, Eurípedes roga mentalmente o esclarecimento para suas dúvidas acerca das bem aventuranças, e que estas pudessem ser esclarecidas pelo Apóstolo João, o Evangelista. Assim, então, esta resposta acontece através de um médium semi-analfabeto o Aristides, numa linguagem sublime, onde finalmente Eurípedes compreendia, o mais perfeito código de consolações. O tio de Eurípedes, Sinhô Mariano, não só foi o grande líder a alavancar o despertar do sobrinho querido, mas durante todo o trabalho fecundo de Eurípedes forneceu a retaguarda mediúnica e o amparo necessário à realização da gigantesca obra intelectual, moral, religiosa, social e política liderada pelo professor. Santa Maria não é apenas o berço da doutrina espírita. Mas também, à companheira (...) Eurípedes Barsanulfo até quando se sentiu abandonado pelos alunos, professores, pais, amigos e familiares, ao se tornar espírita teve no tio Sinhô Mariano e demais confrades de Santa Maria o conforto, o apoio e a retaguarda para prosseguir em sua brilhante caminhada.
Fonte: https://www.conquista.mg.gov.br
Albergue S Mariano
José Sábio veio para o Brasil em um período de guerra em seu país a Espanha,ele veio tratar a sua esposa em Santa Maria com Sinhô Mariano e depois da cura de Donana como era chamada, entusiasmou-se com o espiritismo e passou a morar em Santa Maria .Quando o Tio Sinhô faleceu em 27 de abril de 1949 ele era vice presidente e assumiu a presidência do Centro Espírita Fé e Amor. No ano de 1954 foi fundado o Albergue Sinhô Mariano por José Sábio Garcia com a ajuda dos espíritas da região e também de outros lugares,cada pessoa colaborava com o que podia para a construção do Albergue Sinhô Mariano de uma maneira que foi bem difícil e suada por todos para a sua realização. Na sua inauguração em 07-07-1957 contou com a presença de Dr Clemente Araújo Prefeito de Sacramento que passou a ser o médico da casa naquela época. Uma casa para acolhimento daqueles que aqui vinham buscando o tratamento espiritual com o passe e o evangelho na luz do espiritismo todos os dias,colaborando para o refazimento do ser humano. Hoje esta casa com o nome de Recanto Sinhô Mariano é um retiro espiritual para todos que aqui querem restabelecer as energias físicas e espirituais trazendo assim um bem estar para todos nós.
Em 29 de novembro de 1997 foi fundado o Instituto Cultural Leopoldina Geovana de Araújo com sede no casarão que é também um museu. O instituto tem a finalidade de preservar a história de Santa Maria, estimular o desenvolvimento de atividades culturais, profissionalizantes e artísticas a todos sem distinção. Seu objetivo religioso está no dever de expressar observância aos ensinamentos da doutrina espírita.
Pousada Novo Alvorecer
A Pousada Novo Alvorecer “nasceu de um sonho que tive. Neste sonho havia um senhor com uma aparência serena e de barbas brancas que me mostrava um lugar com uma construção em formato da letra U, onde em toda a sua extensão haviam regos d'água, cascatas e um jardim florido muito lindo povoado de pássaros e de outros animais. Acordei durante a madrugada levantei-me e rapidamente tracei o desenho daquilo que pude guardar em minha mente. Esperei por dois anos até que consegui comprar este pedaço de terra localizada na Fazenda Santa Maria e nele resolvi concretizar o meu sonho e o meu ideal que é a Pousada Novo Alvorecer.”
(José Antônuio Bornato)
C A Bezerra Menezes
A pedra fundamental da Casa Assistencial Dr. Bezerra de Menezes foi plantada em 1º de maio de 1997. Um ano após, foi inaugurado o primeiro bloco e logo iniciou o atendimento. Na Casa Assistencial Bezerra de Menezes um projeto idealizado por Heigorina Cunha, que ganhou apoio de amigos e simpatizantes da líder espírita e foi em frente. A Casa conta com um composto de recepção, sala de reuniões, consultórios, farmácia e sanitários. ala de fisioterapia, a única em funcionamento, toda ala de piso antiderrapante, onde estão as salas para atividades fisioterápicas, banheiros próprios para receber pessoas com necessidades físicas (barras de apoio, portas amplas, etc), duas piscinas aquecidas, uma para crianças, outra para adultos, um amplo refeitório, cozinha industrial e lavanderia, tudo totalmente equipado. Nessa ala, conforme quadro de atendimento afixado, são atendidas pessoas semanalmente, em dois turnos. Todas as terças-feiras, o médico pediatra Gamaniel atende crianças no hospital. O terceiro bloco, destinado às internações, tem capacidade para 32 leitos, amplos quartos com as mais modernas camas hospitalares, amplos banheiros, todos adequados para todo tipo de pacientes, recepção, sala de visitas, sala de médicos e consultórios.